sexta-feira, 27 de setembro de 2013


Aprendendo com Emmanuel: 10 ensinamentos sobre Espiritismo e a Vida Moral

Emmanuel, além de mentor espiritual de Chico Xavier, coordenou toda a missão mediúnica do extraordinário mineiro de Pedro Leopoldo. Como se não bastasse, Emmanuel forneceu ao Movimento Espírita valiosa contribuição como autor de obras de subido valor doutrinário. 

O autor em questão, possuidor de vasto conhecimento evangélico, escreveu páginas extremamente profundas do ponto de vista da busca pela transformação moral à luz da Doutrina Espírita, utilizando-se de referências bíblicas em algumas obras e de citações da Codificação Kardequiana em outras, além de romances, entrevistas e outros gêneros de produção. 

Ademais, seus conselhos, orientações e advertências direcionadas ao pupilo Chico Xavier foram tornadas públicas pelo médium, o que gerou extraordinário material de reflexão espalhado em diversos livros que relatam casos de caráter biográfico e doutrinário relacionados à vida de Francisco Cândido Xavier.

A seguir, reunimos e analisamos algumas instruções de Emmanuel, visando aprofundar nossos estudos sobre a Doutrina espírita e nossa vida moral:

1) “Jesus, a Porta. Kardec, a Chave.”Se Jesus representa a porta que sintetiza “o caminho, a verdade e a vida”, isto é, a via de acesso à elevação espiritual, a Codificação Kardequiana representa a fonte mais segura de informações sobre as Leis Divinas, o que permite que literalmente “decodifiquemos” muitas passagens do Mestre Nazareno que foram deturpadas ou menosprezadas pela humanidade no decorrer de dois milênios.

 O conteúdo doutrinário proporcionado pelo Espiritismo nos ajuda a compreender o sentido profundo das passagens evangélicas, bem como o entendimento do Evangelho corrobora e ilustra os postulados Kardequianos.

2) “Se algum dia algo que eu ensinar ficar em oposição a Kardec e Jesus, fique com eles e deixe-me.”Assim como Allan Kardec havia asseverado em “A Gênese” que, se algum dia a Ciência provar que o Espiritismo equivocou-se em algum ponto, nós deveríamos corrigir esse ponto e seguir em harmonia com a Ciência, demonstrando sua sabedoria, humildade, visão científica e espírito de vanguarda, Emmanuel estabelece que as referências morais e doutrinárias de Chico Xavier, e, logicamente, de todos nós, deveriam ser, em primeiro lugar, a Codificação e o Evangelho.

3) “A maior caridade que nós podemos fazer pela Doutrina Espírita é a sua Divulgação.”A Doutrina Espírita representa “Sol nas Almas”, oferecendo iluminação de consciências em um nível inédito em toda a história da humanidade terrestre. 

Contribuir amorosamente com a sua divulgação representa trabalho de grande responsabilidade, mas igualmente de elevado mérito espiritual, pois significa ajudar efetivamente no esclarecimento, no consolo e na transformação espiritual para melhor de toda a humanidade.

4) “Não existe bom médium, sem homem bom.”A reforma íntima deve ser considerada tarefa prioritária a todos que almejam trabalhar na mediunidade. 

Pela sintonia, Espíritos afins estão sempre trocando pensamentos e fluidos, sendo que, quanto maior for a intensidade mediúnica do candidato a esse trabalho, mais intensa será a manifestação dessa interação com o mundo espiritual. 

Assim sendo, a mediunidade somente será uma fonte de bênçãos e oportunidades no campo do bem, se as bases morais mínimas do portador da faculdade já estiverem bem sólidas. 

Caso contrário, será muito difícil um trabalho disciplinado moralmente e persistente ao longo do tempo. Portanto, nossa preocupação não deve ser acentuar nosso potencial mediúnico, muitas vezes de forma precipitada, mas, sim, dar um elevado direcionamento moral às nossas existências, de maneira que possamos estar cada vez mais equilibrados e produtivos nas tarefas doutrinárias e não-doutrinárias, independentemente do tipo de serviço desempenhado.

5) “... os três requisitos da Mediunidade com Jesus: Disciplina, disciplina e disciplina.”Todos os indivíduos apresentam em suas existências uma série de dificuldades particulares e complexidades em suas existências, sejam elas espirituais, orgânicas, familiares, profissionais, econômicas ou sociais. 

Outrossim, todos os Espíritos encarnados apresentam áreas de interesse pessoal, envolvendo cultura geral, diletantismo e entretenimento, dependendo de diversos fatores associados às aptidões pessoais e ao contexto atual de cada reencarnação. Desta forma, ao abraçar uma tarefa associada à espiritualidade, as cotas de esforço e perseverança devem ser elevadas, bem como a motivação e a responsabilidade para que nossas contribuições não sejam apenas “fogo de palha”, fazendo-nos agir como os “solos pedregosos” ou “solos espinhosos” da “Parábola do Semeador”.

6) “Seria recomendável que os indivíduos que optem pela cremação dos despojos carnais aguardem um intervalo de tempo mínimo de 72 horas a partir do óbito para efetuarem tal procedimento.”Essa recomendação do Benfeitor Espiritual justifica-se, pois a falência biológica não representa a imediata desvinculação total entre Perispírito e Corpo físico. De fato, o fenômeno da total desvinculação do Corpo Espiritual em relação ao cadáver depende de uma série de fatores de natureza espiritual, tais como evolução moral; evolução intelectual, sobretudo conhecimento a respeito da vida espiritual; gênero de vida; tipo de morte; preparo espiritual da família; ambiente espiritual durante o “velório” etc. 

Realmente, para a grande maioria de seres humanos, tal desligamento não se opera imediatamente após a morte do corpo, fazendo-se necessário um período de adaptação à nova realidade que pode ser mais ou menos perturbadora. 

O respeito a esse intervalo de tempo mínimo seria interessante para que todos os laços fluídicos que mantêm o Perispírito imantado ao corpo físico fossem eliminados, evitando impactos sobre o perispírito do Espírito desencarnante.

7) “Todo esforço de hoje é uma facilidade a sorrir amanhã.”Somos sempre senhores do nosso destino e isto ocorre através da utilização de nosso livre-arbítrio. 

Pela Lei de Causa e Efeito, estamos sempre afetando nosso futuro pelas atividades desenvolvidas no presente. Assim, o trabalho, compreendido como “toda atividade útil” é a base de toda conquista espiritual. De fato, somos herdeiros de nós mesmos, implicando que através do esforço e do trabalho no presente, além de diminuirmos o impacto de débitos espirituais do passado, ampliamos nossas potencialidades intelecto-morais para os desafios do futuro.

8) “Esse almeja. Aquele deve. E para realizar ou ressarcir, a vida pede preço.”Dentro da “Lei de Justiça, Amor e Caridade” (vide “O Livro dos Espíritos”), o trabalho no bem, principalmente nas tarefas que amparem diretamente os nossos irmãos, representa novas causas de harmonização espiritual, que podem neutralizar ou pelo menos atenuar causas negativas geradas no pretérito. 

Obviamente, a tarefa no bem, por si mesma, gera desenvolvimento de aptidões e renovação de valores e aspirações, fomentando um “círculo virtuoso” de evolução espiritual, onde o reajuste com o passado preenche o presente, que, por sua vez, representa desenvolvimento de habilidades que tendem a gerar novas oportunidades de progresso espiritual no futuro.

9) “Acalma-te, fazendo todo o bem possível, porque, se a misericórdia divina ainda não alcançou tua esfera de lutas, permanece a caminho.”A Misericórdia das Leis Universais sempre nos alcança, apesar de nem sempre a compreendermos imediatamente. 

De qualquer forma, a constância no dever e no bem constitui diretriz de segurança para que façamos jus ao auxílio espiritual desejado.

 Nossa produtividade no bem gera o mérito bem como a simpatia dos benfeitores maiores, uma vez que, quanto mais trabalhamos na Obra da Criação, mais vezes estaremos sendo instrumentos de Deus no auxílio aos nossos irmãos.

10) “Se o passado fornece a riqueza da experiência, nem sempre é o guia mais seguro para o presente.”A fixação das imagens negativas, viciações e ressentimentos é hábito extremamente perturbador para o indivíduo que almeja a elevação espiritual. Indubitavelmente, a grande maioria dos Espíritos atualmente encarnados na Crosta terrestre possui lembranças tristes, mágoas, arrependimentos e traumas em maior ou menor grau. 

Entretanto, tais impressões negativas só impactam mais significativamente a vida mental de cada um de nós, quando, por invigilância, damos guarida a essas impressões e passamos a “reviver” em nosso mundo íntimo tais experiências. 

A “higiene” mental e emocional, através de um “processo autolimpante” de vigilância espiritual, diminui a ocorrência das “telas mentais” infelizes, limitando a manifestação desses verdadeiros “Painéis da Obsessão”, como diria Manoel Philomeno de Miranda. 

Essa limpeza requer o emprego abundante de preces sinceras, leituras edificantes, otimismo, ações no bem, entre outras atividades que visam ao bem do nosso irmão e que inexoravelmente sempre geram o nosso próprio bem.


segunda-feira, 23 de setembro de 2013

    Épossível ser feliz neste mundo?

Neste início de um novo ano vale a pena refletir acerca de uma antiga questão: 

Por que encontramos na Terra tanto sofrimento?Tal indagação é mais comum do que se pensa e, também, muito frequente na história da Humanidade. 

Assim é que vemos no livro de Jó (3:20 e 23) o grande varão da terra de Hus a perguntar ao Senhor: "Por que foi concedida luz ao miserável, e vida aos que estão em amargura de ânimo?”.

Atualizando a preocupação daquele que é considerado o símbolo da paciência, pergunta-se com frequência por que morrem pessoas no vigor da vida, enquanto enfermos idosos se debatem anos a fio num leito de hospital.As aflições humanas e suas causas mereceram de Allan Kardec, o Codificador do Espiritismo, um capítulo inteiro – o capítulo V d´O Evangelho segundo o Espiritismo – no qual ele nos fala sobre as causas atuais e anteriores dos dissabores que acometem a criatura humana.

Eis, de forma resumida, a lição que Kardec nos apresenta:Causas atuais: consequências da conduta e do caráter, imprevidência, orgulho, ambição, falta de ordem e perseverança, mau comportamento, cálculo de interesse e de vaidade, negligência na educação dos filhos etc.

 Muitas pessoas, se examinassem o que têm feito na atual existência, concluiriam sem dificuldade que suas aflições são o resultado de suas ações e poderiam deixar de existir se outra tivesse sido sua conduta.Causas anteriores: as que não apresentam relação alguma com os atos da existência atual e radicam-se, portanto, em existências passadas. 

Com efeito, como justificar à luz do comportamento atual de uma pessoa a perda de entes queridos, os acidentes que nada pôde evitar, os reveses da fortuna, os flagelos naturais, as doenças de nascença e a idiotia?

Os estudos publicados por Kardec em 1864, quando deu a lume o livro referido, receberam inúmeras comprovações já no ano seguinte com a edição de seu livro O Céu e o Inferno, que nos apresenta uma coleção extraordinária de casos, muitos dos quais diretamente relacionados com o passado espiritual de seus personagens.

O tempo passou e décadas depois a mesma tese foi reafirmada nas obras de autoria de André Luiz, sobretudo as constantes da chamada Série Nosso Lar. 

E nesse meio tempo, entre o período da codificação e o advento de André Luiz, surgiu no cenário editorial um dos clássicos da mediunidade – Memórias do Padre Germano, de Amalia Domingo Soler –, que nos apresenta, em sua parte final, a comovente história do conde Henoch e sua linda mulher Margarida, que envenenou o próprio esposo para, dois anos depois, casar-se com seu cúmplice. 

O Espírito do Padre Germano mostra, no livro, a vida de Margarida no plano espiritual, onde durante vinte e cinco anos sofreu muito, e sua reencarnação como Fera, nome pelo qual era conhecida a mulher andrajosa que, embora jovem, fazia rir quem lhe contemplasse o rosto monstruoso.

O homem, obviamente, gostaria de ser feliz e ver-se, desse modo, livre de quaisquer aflições. 

Ocorre que o problema da felicidade humana, que constitui uma aspiração válida e natural da humanidade, não pode ser examinado sem se levar em conta a Lei divina que determina que cada um deve colher no mundo o resultado de sua própria semeadura.

Uma existência na Terra é uma passagem muito curta. O homem geralmente se esquece de que, animando um corpo perecível, existe uma alma imortal. 

E por desconhecer ou desprezar esse fato é que temos situado a felicidade em valores equivocados ou em situações em que jamais nos encontramos.

O assunto é examinado na Doutrina Espírita em três questões sucessivas d' O Livro dos Espíritos, a saber: 

920. Pode o homem gozar de completa felicidade na Terra? “Não, por isso que a vida lhe foi dada como prova ou expiação.

 Dele, porém, depende a suavização de seus males e o ser tão feliz quanto possível na Terra.”921. Concebe-se que o homem será feliz na Terra, quando a Humanidade estiver transformada. Mas, enquanto isso se não verifica, poderá conseguir uma felicidade relativa? 

“O homem é quase sempre o obreiro da sua própria infelicidade. Praticando a lei de Deus, a muitos males se forrará e proporcionará a si mesmo felicidade tão grande quanto o comporte a sua existência grosseira.”922.

 A felicidade terrestre é relativa à posição de cada um. O que basta para a felicidade de um, constitui a desgraça de outro. Haverá, contudo, alguma soma de felicidade comum a todos os homens? 

“Com relação à vida material, é a posse do necessário. 

Com relação à vida moral, a consciência tranquila e a fé no futuro.O caso Ismália-Alfredo, narrado no cap. 17 do livro Os Mensageiros, de André Luiz, comprova e ilustra o ensinamento contido nas questões mencionadas. 

Alfredo, um homem bem casado e socialmente bem posto na vida, pôs de repente tudo a perder, em face de uma decisão precipitada de que depois iria arrepender-se amargamente.

A mensagem espírita é, por isso, bastante clara: 

Não podemos perseverar nos erros e nos fracassos do passado. Emmanuel, a esse respeito, adverte: 

"O tempo não para, e, se agora encontras o teu ontem, não olvides que o teuhoje será a luz ou a treva do teu amanhã". 

(Prefácio que abre o livro "Entre a Terra e o Céu", de André Luiz.)

Somos, ensina o Espiritismo, construtores do nosso próprio destino.

Tudo seria para nós bem mais proveitoso se lembrássemos que, conforme Jesus dizia, a semeadura é livre mas a colheita é compulsória e que, praticando a lei de Deus, a muitos males nos forraremos, proporcionando a nós mesmos uma felicidade tão grande quanto seja possível na presente encarnação, consoante ensina a questão 921, acima transcrita. 

sexta-feira, 20 de setembro de 2013


Preconceitos e discriminações: sinais de atraso espiritual

Um dos mais salientes sinais de atraso espiritual - ainda fortemente presente neste planeta – 


é o preconceito

Embora seja socialmente constrangedor admitir que temos preconceitos, o fato é que os cultivamos lá no âmago do nosso ser. Raríssimos são aqueles que conseguem a proeza de respeitar os outros e as suas respectivas particularidades na mais ampla acepção da palavra.

 Paralelamente, as manifestações de intolerância, discriminação e estereótipos também grassam nas sociedades humanas.

Tais coisas representam verdadeiras chagas sociais e mesmo morais, já que denigrem o meio em que vivemos, bem como escancaram – de maneira estrepitosa – a nossa condição evolutiva inferior. O preconceito e a sua irmã dileta – a discriminação – têm causado muitos sofrimentos, assim como sérios comprometimentos cármicos.

Posto isto, cabe inicialmente distinguir o que são exatamente essas doenças sociais – assim as denominamos – com graves repercussões no bem-estar do espírito. Assim sendo, renomados cientistas sociais definem preconceito como os sentimentos negativos ou vieses direcionados a particulares grupos sociais como, por exemplo, negros, gays, lésbicas etc.

Por outro lado, os estereótipos são as nossas crenças estabelecidas – que geralmente primam pela falta de sabedoria – a respeito de determinados grupos sociais, tais como mulheres, trabalhadores mais velhos ou minorias étnicas.

 Nesse sentido, em decorrência da nossa deficiente formação cultural, social e religiosa, dificilmente conceberíamos a ideia de um membro da raça indígena, por exemplo, por mais apto que fosse, vir a ocupar a direção do Hospital das Clínicas (HC) em São Paulo.

 Em nossas mentes – impregnadas, não raro, por pensamentos e ideias intolerantes e inflexíveis – tal posição deve caber preferencialmente a uma pessoa do sexo masculino, no mínimo na faixa dos cinquenta anos de idade e já exibindo algumas cãs.

De maneira similar, seria um estrondoso choque para a maioria de nós ver um homem negro – por mais lustroso que fosse o seu currículo profissional, assim como o seu diploma de Master in Business Administration (MBA) – ocupar a presidência de certas empresas que operam no território brasileiro. A nossa forma estereotipada de enxergar o mundo – em resumo – determina em nossas mentes o que é “certo” ou “errado”, assim como o que é aceitável ou não. 

A partir daí, tomamos decisões e assumimos pontos de vistas nem sempre justos e corretos.

Finalmente, a discriminação refere-se à manifestação de um viéscomportamental injusto demonstrado contra determinadas pessoas. Por exemplo, (1) cidadãos mais velhos são sumariamente descartados para o preenchimento de determinadas vagas de trabalho por causa da sua idade, o que expressa conduta ageísta por parte do empregador; (2) trabalhadores obesos enfrentam igualmente grandes dificuldades de se recolocar em razão da sua aparência considerada fora dos “padrões estéticos”.


De qualquer maneira, os scholars consideram que um indivíduo pode a prioriser alvo de preconceito sem ser, no entanto, discriminado.

 Mas também é possível discriminarmos alguém sem sermos preconceituosos. No geral, o que prevalece é “o preconceito levando ao tratamento discriminatório e o tratamento discriminatório levando a atitudes preconceituosas”.

Portanto, trata-se de coisas extremamente negativas que brotam dos valores distorcidos ou das convicções infundadas que acalentamos, muito distantes de um ideal de igualdade, fraternidade e respeito que deveria imperar, de modo geral, nas relações humanas.

 O Espiritismo tem sólida posição a respeito do tema.

 Assim sendo, vejamos primeiramente a questão nº 799 de O Livro dos Espíritos (LE) (edição americana):

“Como pode o Espiritismo contribuir para a evolução humana? Pode ajudar a derrubar as ideias da filosofia materialista e assim fazer os seres humanos entenderem onde se encontram os seus reais interesses. 

Pode eliminar as dúvidas acerca da vida após a morte, de modo que as pessoas possam se sentir seguras a respeito do futuro. E pode ser vital em erradicar os preconceitos de religiões, classes sociais e raças. A doutrina irá, por fim, ensinar à humanidade a grande lição de irmandade sob a qual todos os homens e mulheres irão eventualmente viver em solidariedade”. (Ênfase nossa.) 
Afinal de contas, adotando a premissa da pluralidade das existências – embasada em evidências absolutamente concretas –, o Espiritismo ensina que o Espírito passará, na sua trajetória evolutiva, por muitas situações e papéis até que expurgue todas as suas imperfeições. Não faz sentido, à luz dos princípios espíritas, criticar e/ou discriminar uma pessoa por causa da cor da sua pele, orientação sexual, crença religiosa, aparência ou idade.

Mas como dissemos anteriormente, a discriminação e o preconceito existem e estão em toda parte. Vejamos, assim, alguns dados
:
·        Estimativas do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) projetam para o ano de 2010 haver, para cada grupo de 100 mulheres, 96,3 homens.

·        Em 2009 as mulheres ocupavam 43,9% da população economicamente ativa do país, conforme a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (PNAD).

·        No entanto, os homens, na média, ganhavam 21% mais do que as mulheres, conforme o relatório RAIS 2009 do Ministério do Trabalho.

·        Quando se analisa o grupo de trabalhadores com curso superior, a diferença é simplesmente brutal à medida que os homens percebem ganhos cerca de 72% superiores ao das mulheres (RAIS 2009).
·        Na média geral uma pessoa negra ganha -32% do que a branca e -4% do que a parda (RAIS 2009).

·        A trabalhadora negra, por sua vez, ganha -33% do que a branca (RAIS 2009).
·        As pessoas acima de 40 anos estão sub-representadas no conjunto total de empregados das 150 Melhores Empresas para Você Trabalhar no país, publicado pelas revistas Você S/A e Exame.
·        Já os trabalhadores na faixa dos 50-64 anos de idade ocupam – no mesmo contingente de empresas citado – cerca de -25% das vagas do que a média do mercado para esse grupo etário.

·        As mulheres que vivem em países mulçumanos como o Afeganistão e o Paquistão são tratadas abaixo de certos animais, sendo agredidas pelos seus parceiros – culminando, não raro, com a completa deformação de seus rostos – de forma indiscriminada e sem punição.

Posto isto, a questão nº 201 do LE (edição brasileira), enfocando a orientação sexual, é assim abordado:

“Em nova existência, pode o Espírito que animou o corpo de um homem animar o de uma mulher e vice-versa? Decerto; são os mesmos os Espíritos que animam os homens e as mulhe
res”. (Ênfase nossa.)
Já na questão nº 202, o tema é mais bem explicado:

“Quando errante, que prefere o Espírito: encarnar no corpo de um homem, ou de uma mulher? Isso pouco lhe importa. O que o guia na escolha são as provas por que haja de passar”. (Ênfase nossa.)
Por fim, Kardec acrescenta ainda que:

Os Espíritos encarnam como homens ou como mulheres, porque não têm sexo. Visto que lhes cumpre progredir em tudo, cada sexo, como cada posição social lhes proporciona provações e deveres especiais e, com isso, ensejo de ganharem experiência. Aquele que só como homem encarnasse só saberia o que sabem os homens”. (Ênfase nossa.)

Portanto, haveremos de nascer e renascer tantas vezes quanto necessário até assimilarmos as virtudes essenciais. Assim sendo, habitaremos em corpos e viveremos em contextos que nos conduzirão aos aprendizados imprescindíveis. 

Desse modo, as infindáveis discussões sobre qual dos sexos é mais inteligente, mais sensato, mais sensível etc., passam ao largo das verdades transcendentais e, por isso, são irrelevantes. Não passam de discussões rasas à luz da imortalidade da alma e da plasticidade do espírito.

Nesse sentido, o Espírito Irmão José nos esclarece que eventuaispreconceitos que alimentemos são demonstrações de limitações de nosso Espírito. Lembra-nos o benfeitor que embora estejamos a caminho da perfeição, “... falta-nos muito chão a percorrer”.

 Recomenda-nos ainda para não nos escandalizarmos “... diante das atitudes que nos causem estranheza”. Afinal, nenhum de nós é igual ao outro. “Não sabemos o que fomos e nem podemos prever o que seremos”, pondera o benfeitor. Por isso, devemos tratar a todos com respeito e consideração, já que também apreciamos receber, por nossa vez, esse tipo de tratamento. 

No mesmo diapasão, o Espírito Joanna de Ângelis ressalta que “Entre outros, a equanimidade constitui um valioso tesouro a ser adquirido, num estágio mais nobre da existência”. E acrescenta igualmente que:

“A equanimidade propõe que se estabeleçam vínculos de bondade e de respeito com os mais diferentes biótipos existentes, de forma que o bem esteja acima das vicissitudes e das lastimáveis consequências das ocorrências infelizes ou funestas”.

Por fim, Joanna de Ângelis observa que:

“A equanimidade oferece a medida exata de como proceder-se em relação ao próximo e de como reagir-se diante de fatos penosos, afligentes, mantendo-se sempre no mesmo estado de harmonia.”  
Noutra abordagem convergente, o Espírito Ermance Dufaux propõe a solução pela via da alteridade, considerando que “Nas abordagens filosóficas, a alteridade tem conotações de rara beleza e profundidade, demonstrando a importância da diversidade humana [...]”.

 Ela recorre à questão nº 804 do LE para consolidar a sua argumentação – ou seja: “Necessária é a variedade das aptidões, a fim de cada um possa concorrer para a execução dos desígnios da Providência, no limite do desenvolvimento de suas forças físicas e intelectuais”.

Lembra-nos Irmão José que Jesus “não se esquivava das prostitutas e dos homens de má vida”. Cabe ressaltar também que Jesus nos deu outros extraordinários exemplos de tolerância e inclusão social. Um dos mais marcantes foi o episódio da mulher samaritana. Destaca Cairbar Schutel que:

“Chegando Jesus a Sicar, a cidade da Samaria, repousou perto de Jacó, quando, à hora sexta (12h), uma mulher veio tirar água.

 O Mestre pediu-lhe de beber e ela admirou-se de lhe pedir água um ‘judeu’, porque os judeus não se comunicavam com os samaritanos, por motivos religiosos”.

“Jesus fez-lhe ver, então, que o dom’ de Deus era mais do que judeu, mais do que samaritano, e disse à mulher: “Se tu conhecesses o “dom” de Deus e quem que pede água, tu lhe terias pedido “água” e ele te daria, porque quem beber da “água” que eu lhe der, nunca mais terá sede” [...]”.  

Um outro exemplo fascinante foi relatado pelo Espírito Humberto de Campos. Conforme o autor espiritual, no começo do apostolado cristão havia – como em todos os agrupamentos humanos – uma exaltação natural por parte dos mais jovens.

 Eles vislumbravam em suas conversações levar a boa nova para todos os recantos do planeta. Nos seus impulsos juvenis imaginavam que companheiros como Pedro – premido pelas responsabilidades do lar – e Mateus – amarrado às obrigações de cada dia – pouco poderiam fazer.

Entretanto, Simão, “O Zelote”, algo mais velho, ouvia-os e temia não ser útil aos desafios do porvir. Afinal de contas, os anos já lhe pesavam sobremaneira no corpo e as suas energias já demonstravam certo esgotamento, embora o Espírito se conservasse atento.

 Assim sendo, com a autoestima meio conturbada, o velho pescador procurou o Mestre a fim de lhe rogar orientações.

O Mestre ouviu-o atentamente, embora já tivesse pleno conhecimento das tempestades que lhe intranquilizavam a alma. Resumidamente, esclareceu-o que “a existência humana é uma hora de aprendizado, no caminho infinito do Tempo...”. 

Além disso, argumentou que, sob a perspectiva intergeneracional, ambos jovens e idosos tinham obrigações e deveres para a manutenção do equilíbrio da vida em sociedade. 

A fim de motivar o velho apóstolo, alertou-o quanto à sua parte no esforço geral, bem como a sua importância naquele momento na obra que se erigia. Concitou-o a ter paciência com os mais jovens – levianos ou não – e conservar o bom ânimo.

Simão retornou aos seus afazeres com as suas energias retemperadas. Ao voltar à casa pobre, encontrou Tiago, filho de Cleofas, conversando à margem do lago com outros jovens e no calor da suas argumentações aludiu à idade de Simão.

 Embora não tenha se sentido – desta vez – ofendido ou magoado, oportunamente Simão procurou o impetuoso companheiro de luta. Com extraordinária brandura e lógica fez o jovem apóstolo entender que a idade era um aspecto irrelevante diante do desafio de edificar o reino de Deus no íntimo das criaturas.

Nessa noite, ao repousar, Simão teve um sonho arrebatador no qual ele “se encontrava com o Messias, no cume de um monte que se elevava em estranhas fulgurações”. Conforme relata o Espírito Humberto de Campos, Jesus o abraçou com carinho e lhe agradeceu “o fraterno esclarecimento fornecido a Tiago e pelo seu terno cuidado com duas crianças desconhecidas – que ele horas antes havia, de certa forma, salvado – por amor de seu nome”.

“O discípulo sentia-se venturoso naquele momento sublime. Jesus, do alto da colina prodigiosa, mostrava-lhe o mundo inteiro. Eram cidades e campos, mares e montanhas...

 Em seguida, o antigo pescador compreendeu que seus olhos assombrados divisavam o futuro. Ao lado de seu deslumbramento passava a imensa família humana. Todas as criaturas fitavam o Mestre, com os olhos agradecidos e refulgentes de amor [...].”

“Simão acordou, experimentando indefinível alegria.” Ao procurar Jesus para agradecê-lo com profunda humildade, ouviu-o dizer: “Em verdade, Simão, ser moço ou velho, no mundo, não interessa!... Antes de tudo, é preciso ser de Deus!...”

Parafraseando o Mestre inolvidável, é de somenos importância se somos altos ou baixos, gordos ou magros, bonitos ou feios; se somos negros, brancos, indígenas ou amarelos; se somos homens ou mulheres ou ainda se somos heterossexuais ou homossexuais.

 Fundamentalmente, o que importa é que tenhamos Deus em nossos corações!
Por fim, como espíritas, nos cabe o esforço de eliminarmos qualquer laivo de preconceito ou discriminação de dentro de nós, pois amanhã poderemos estar numa condição igual à daquele que hoje criticamos ou prejudicamos.  

Bibliografia: 
BACELLI, C. A. (Pelo Espírito Irmão José). Vigiai e orai. 4ª edição. Votuporanga, SP: Casa Editora Espírita “Pierre-Paul Didier”, 2002.
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GOLDMAN, B., GUTEK, B., STEIN, J. H., & LEWIS, K. Employment discrimination in organizations: Antecedents and consequences. Journal of Management, v. 32, n. 6, p. 786-840, 2006.
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SCHUTEL, C. Parábolas e ensinos de Jesus. 17ª edição. Matão, SP: Casa Editora “O Clarim”, 2001.
XAVIER, F.C. Boa Nova. 11ª edição. Rio de Janeiro, RJ: FEB, 1977.

Revista O consolador - Anselmo Ferreira Vasconcellos