quarta-feira, 30 de outubro de 2013


Atropelos ou atropelados?

Assim vive o homem. 

Assim caminha a humanidade terrestre nestes tempos atuais.
 O tempo, em verdade, quase não existe. As horas correm céleres atropelando nossas programações. 

Será que é assim mesmo ou será que nos deixamos levar pela alucinante correnteza deste rio de incertezas? É bom refletir. 

É bom pensar e concluir que algo de superior deve ser procurado por nós. Algo que agregue valor à nossa existência dentro do programa evolutivo em que estamos inseridos, cada qual, individualmente. Não nos basta mais cumprir as quatro propostas básicas da sobrevivência que são: alimentar, dormir, trabalhar e reproduzir.

Dados os séculos de experiências acumuladas neste planeta, compete-nos uma outra procura, mesmo que tenhamos que abdicar de velhos hábitos enraizados e sofridos dentro de nós. 

Temos um absurdo acúmulo de gorduras psíquicas que necessitam ser expurgadas para o nosso bem, para o bem da sociedade. É bom que nos liguemos a algo profícuo que nos liberte deste torvelinho insano de repetições infelizes dos erros seculares. 

Eles renascem conosco e tomam conta de nós, muitas vezes quando ainda crianças, para tomarem vultos espantosos na adolescência e depois na maturidade. O ciclo passa e pouco nos adiantamos por não mudarmos nossos pontos de vistas sobre esse ou aquele ângulo comumente pobre e mundano.


Gandhi, o extraordinário líder indiano, nos alertou: “Acreditar em algo e não o viver é desonesto”. Kardec, no item VIII da Introdução do Livro dos Espíritos, nos assevera que “o estudo de uma doutrina, como é o caso da Doutrina Espírita, que subitamente nos lança numa ordem de coisas tão nova e grandiosa, só pode ser feito de maneira proveitosa por homens sérios, perseverantes, isentos de ideias preconcebidas e impulsionados por um firme e sincero propósito de alcançar um resultado”.

Daí resta-nos o dever de repensar nossas vidas e atitudes quando apenas acreditamos na Doutrina Espírita, mas não vivenciamos os seus fundamentos. Fomos direcionados por Jesus para uma casa espírita e não foi por acaso.

 Ele bem conhece nossas profundidades, riquezas e insanidades e sabe o que mais precisamos por agora.
Quantos ainda se perdem em questões de menos importância, movidos pela força retrógrada dos nossos atavismos, cultivados e cultuados enquanto o tempo passou e agora é tudo diferente?

 Quantas vezes, em reuniões mediúnicas, dialogamos com irmãos desencarnados cujas mentes situam-se ainda no início do século passado ou mesmo antes, sem o menor conhecimento que aquele tempo é findo? 

Quantos reencarnam e suas mentes ainda estão presas a tempos anteriores e tantos buscam na vingança, no ciúme, no ódio a solução de velhas questões, utilizando a lei de talião, enquanto que a proposta nova é a benevolência, a indulgência e o perdão, corolários da caridade, conforme a questão 886 de O Livro dos Espíritos?


Percebemos facilmente que muitas mentes ainda se encontram fundamentadas em teorias medievais, buscando reafirmá-las a todo custo no século XXI, esquecidos que o Renascimento trouxe para o homem a perspectiva de ser cocriador com Deus, como afirmou Jesus e que tão poucos entenderam. E depois da Renascença, o tempo evoluiu, o pensamento humano e as propostas científicas e tecnológicas deram saltos extraordinários e que a Doutrina Espírita chegou e: 

“...Pela sua potência moralizadora, por suas tendências progressivas, pela amplitude de suas vistas, pela generalidade das questões que abraça, o Espiritismo, mais que qualquer outra doutrina está apta a secundar o movimento regenerador..."
como afirma Kardec em A Gênese, cap. XVIII, item 24.

Todo dia é novo.

 O tempo se faz outra vez. 

Para muitos será o último, mas para outros tantos não o será. É bom aproveitarmos as vinte e quatro horas que se alinhavam e formam uma nova oportunidade de trabalhos e construções que nos deem a felicidade de participarmos com acerto na Grande Obra da Criação. 

E assim, ao chegarmos ao término de cada dia, podermos dizer sossegados e em paz: venci um pouco mais esta batalha contra as minhas más tendências.
E aqui nos lembramos de Santo Agostinho quando disse que: 

“A verdade é o alimento das almas”. 

E esta questão da verdade nos coloca face a face com outra realidade: qual é a minha verdade? Ótimo tema para propor-nos e agora como um fundamento sério a ser estudado. 
Jesus disse a Pedro: 

“A verdade é o conhecimento da Luz Divina”.

 A Luz Divina, sabemos, promana de Deus, a causa primeira de todas as coisas. Assim chegamos à conclusão de que a Verdade está guardada dentro de nós, numa caixa de pandora, a guardiã deste bem inestimável que nos leva à liberdade total, como nos asseverou o Mestre dos Mestres.

A verdade, porém, deve ser tocada de leve, mas de forma constante. Ela não pode sair de uma só vez. Não suportaríamos sua luz. 

Contudo, quando a tocamos nossos dedos passam a ser mágicos e nossas visões se dilatam, e ei-nos como novos, vendo coisas novas nos tempos que se sucedem dentro do maravilhoso ciclo da aurora e do poente que se vê no céu, que se vê em cada um.


Sejamos sinceros conosco mesmos, caminhando com os pés no chão e a mente ligada à Espiritualidade Superior. Caminhando com cuidado sem atropelos ou sem atropelarmos ninguém, respeitando espaços e cumprindo nossa parte, mas sempre caminhando para a frente e para o alto. Confúcio, o Mestre Chinês, faz importante reflexão já no século IV a.C.:

 “Não sei como pode ser bom um homem a quem falta a sinceridade”. 

Eis aí a chave: sinceridade. Ser sincero é sinal de maturidade e sobre maturidade Kardec nos diz ainda no livro A Gênese, cap. XVIII item 2: 

“...Portanto, quando a humanidade está madura para franquear um grau, pode-se dizer que os tempos marcados por Deus chegaram, como se pode também dizer que em tal estação são chegados os tempos para a maturidade dos frutos e a colheita”.  

GUARACI LIMA SILVEIRA      

sábado, 26 de outubro de 2013


Sala repleta... Casa deserta

Gilberto Gil tem uma canção que diz: “Tanta gente!... E estava tudo vazio. Tanta gente!... E o meu cantar tão sozinho”.  
O que teria isso a ver com o cotidiano dos grupos espíritas na atualidade?

... Muita coisa!... 
Em Casas equivocadamente agigantadas, equipes trabalham por turno e mal se conhecem, pessoas viram números e o velho e essencial acolhimento que começaria “dentro de casa” acaba se perdendo em meio à distribuição de senhas para o passe e outras novidades em nome da organização. 

A preocupação é atender e impressionar bem aos que chegam, aos que vêm de fora

Enquanto isso, no interior dos grupos, quanta gente sofrendo de solidão acompanhada... 

Minguando afetivamente! 
Importante avaliar como tem sido a nossa relação com os companheiros de dentro, no cotidiano institucional espírita. 

Conseguimos perceber seu olhar mais triste nesse ou naquele dia? 

Quando desaparecem por algum tempo, o nosso primeiro pensamento é de censura, ou preocupação? Passa pela nossa cabeça que possam estar atravessando uma fase difícil e, em caso afirmativo, nos mobilizamos para ampará-los? 

Aos que retornam após um período de ausência, a manifestação tem sido de acolhimento e alegria, ou de cobrança? 

Ah, as tais cobranças... Das piadinhas sarcásticas e olhares enviesados ao dedo em riste, vale tudo para manter o “bom andamento das atividades, em nome de Jesus”... 

Porém, vale a pena pensar se tem sido oferecido afeto, compreensão e solidariedade na mesma medida em que se cobra.

Favorecidos por regras monásticas que inibem a espontaneidade e a afetividade entre os trabalhadores, os grupos acabam resvalando para o extremismo. 

“O silencio é uma prece”... 

Antes, durante e depois das reuniões.

 Ignora-se que onde não há espaço para diálogo e autenticidade não pode haver uma relação saudável e verdadeira. 

Assim, vestindo a armadura do formalismo que afasta – em lugar da naturalidade que aproxima – temos nos tornado meros tarefeiros, cada vez mais robotizados e indiferentes. 

Sem perceber, em vez de estar uns com os outros, temos apenas passado uns pelos outros, como se as pessoas fizessem parte dos móveis e utensílios da Casa Espírita. 

Muito comum entrar no grupo, assinar a lista de frequência (uma espécie sutil de folha de ponto para espíritas) e ligar no automático.

 A preocupação em ser impecável sobrepõe-se então ao importar-se com. É que andamos muito ocupados em ser perfeitos. 

Mesmo que ser perfeito signifique apegar-se a detalhes ínfimos e apontar a imperfeição alheia para colocar em destaque a pretensa superioridade que ainda estamos longe de possuir...

 Quanta ilusão! 

Se o companheiro procura ajuda, lá vem o julgamento implacável implícito na “receitinha de bolo”: 

Prece, água fluidificada, redobrar a vigilância... 

Com direito, é claro, a sorrisinho paternalista e tapinha nas costas. 

Dali cada qual pro seu lado e a cômoda sensação de dever cumprido, sem que tenhamos, entretanto, caminhado um milímetro sequer em direção às reais necessidades do outro. 

Sem contar que, convenhamos, numa quase ditadura da pseudos santidade como critério de “promoção” a trabalhador espírita, raros são os que têm coragem de expor suas dificuldades, por mais que estejam passando o pão que o diabo amassou.

 Afinal, reza a lenda que espírita não pode estar sujeito aos problemas existenciais inerentes aos “reles mortais”, como stress, depressão, frustração amorosa ou coisa que o valha. 

Daí o receio de se abrir, pois mostrar alguma fragilidade pode significar perda de credibilidade e exclusão dos trabalhos, pode render o estigma indigesto de obsediado.

Some-se a tudo isso o fato que, embora espíritas, a maioria de nós tem vivido na prática como bons materialistas. 

Interagindo numa sociedade altamente competitiva, temos sido sutilmente seduzidos pelo supérfluo, em detrimento do essencial. 

O objetivo primordial da vida passou a ser o sucesso profissional, social e financeiro, que inclui produzir, consumir e ostentar (desde títulos acadêmicos e profissionais a bens materiais).

 Mas ser “bem-sucedido” dá muito trabalho. 

Os inúmeros cursos, viagens e horas extras à noite, fins de semana e feriados, somados à necessidade exacerbada de ter, tomam-nos muito tempo. 

Então os compromissos espirituais deixam de ser prioridade. 

Vão sendo adiados ou assumidos pela metade, encaixados nas sobras de tempo que restam de tudo o que é material e “urgente.” 

Passa-se então a ir à Casa Espírita quando dá... Só pra bater o ponto... E de preferência “correndinho,” como quem dá um pulinho no supermercado mais próximo só pra suprir uma ou outra coisa que está em falta na despensa.

 Nem bem acabou o “assim seja” e as pessoas já saem feito foguete para “levar ou buscar Fulaninho e Beltraninha não sei onde”... Ou para compromissos que poderiam tranquilamente ser agendados em outra data. 

Ora, quanto mais superficial a convivência, mais frieza nas relações. Passamos então a nos esbarrar na Instituição, não como irmãos, mas como meros colegas de trabalho; a viver uma vida paralela fora do Grupo Espírita, com um círculo de relações à parte, onde dificilmente há lugar para os companheiros de ideal.  

Em que vão escuro do preciosismo doutrinário e do igrejismo teremos perdido a sensibilidade, o prazer de estar juntos, os laços de amizade que extrapolavam os muros da Casa Espírita?

 Em que lugar do tempo foram parar as gostosas confraternizações extra reuniões... 

Os agradáveis bate-papos após as atividades... A amizade parceira que se estendia para os programas de lazer em comum... 

O olhar atento que detectava quando esse ou aquele amigo não estava bem... O interesse verdadeiro pelo bem-estar uns dos outros?... 

Talvez seja mais fácil culpar a correria e o medo da violência dos dias atuais - alegando que é perigoso chegar tarde em casa ou pretextando falta de tempo - do que responder honestamente a essas perguntas, mas uma coisa é inegável:

 Coragem é questão de fé, e tempo é questão de prioridade. 

E são tantos os irmãos que reclamam atenção especial... Companheiros solitários para os quais os fins de semana são intermináveis e que, se acolhidos, com certeza se sentiriam muito melhor!... 

Companheiros em processos reencarnatórios difíceis ou em períodos de crise existencial, para os quais faria toda a diferença uma conversa amorosa, a presença amiga naquele momento crucial ou a festinha surpresa de aniversário. 

Celebrar, gente, é trabalhar a autoestima individual e coletiva. Quando as pessoas se sentem valorizadas, quando são envolvidas em ambiente de carinho, alegria e leveza, todo o grupo se torna mais harmônico, feliz e produtivo. 

“Espíritas, amai-vos e instruí-vos!” – recomendou o Espírito de Verdade. A construção da frase sinaliza, clara e pedagogicamente, para a ação prioritária. Teoria, já temos de sobra. Agora é aplicá-la no cotidiano das relações. É avaliar com honestidade até que ponto ser impecável, indispensável e PHD em Espiritismo tem sido mais importante do que ser irmão. 

“Reconhecereis os meus discípulos por muito se amarem” – afirmou Jesus. Neste momento é imperioso resgatar a nossa identidade de seguidores sinceros do Mestre, buscando interagir com sinceridade e companheirismo. Como distribuir aos que chegam o afeto, o aconchego e a tolerância que sequer conseguimos construir entre nós, companheiros de caminhada e de ideal?  


Repensemos.

 Continuar a brincar de ser fraternos, alimentando a distância entre o discurso e a prática da legítima fraternidade, é um enorme desserviço à nossa própria evolução e felicidade. 

O mundo espiritual tem nos alertado que, das boas intenções de teóricos e indiferentes Espíritos-espíritas, o umbral já está cheio...

 E os hospitais das colônias espirituais também!... Muito embora – pra sorte nossa – em casos de extrema pobreza e vulnerabilidade espiritual, a Misericórdia Divina nunca negue licença pra mais um puxadinho.

Joanna Abranches  -o consolador

terça-feira, 22 de outubro de 2013

                                                   


Papel carbono
Para os encarnados é muito difícil captar todas as  nuanças e magnificências do Mundo Espiritual
 
 “Eu vim para que tenham vida, e a tenham com abundância.” -
Jesus (João, 10:10.)

A vida corporal, transitória, não passa de um “papel carbono” da vida Espiritual, esta sim, a verdadeira. Tal realidade é – insofismavelmente – demonstrada pelo testemunho dos próprios habitantes da Vida Maior, que, através dos canais mediúnicos, tentam nos dar uma ideia – ainda que bastante pálida – dos proscênios celestiais.  


Mas, para nós, encarnados, é muito difícil captar todas as nuanças e magnificências do Mundo Espiritual, uma vez que não temos parâmetros ou referenciais que nos auxiliem nessa compreensão.

 Sem embargo, os Espíritos tentam contornar essas limitações e vêm nos oferecer uma tênue ideia do ambiente onde vivem e para onde um dia nos transferiremos. 
A segunda parte do livro básico do Espiritismo “O Céu e o Inferno” contém um repositório farto desses testemunhos, como, por exemplo, o do Espírito que se identifica com nome de Sixdeniers

“Permaneci muito tempo sem me reconhecer, mas com a bênção de Deus e o auxílio dos que me cercavam, quando a luz se fez, inundou-me. 

Nada existe aqui de material; tudo fere os sentidos ocultos sem auxílio da vista ou do tato. Compreendeis? 

É uma admiração, porque não há palavras que a expliquem.

 Só a alma pode percebê-la. Bem feliz foi o meu despertar...
    
Imaginai que estais encerrado em calabouço infecto onde o vosso corpo, corroído pelos vermes até a medula dos ossos, se suspende por sobre ardente fornalha; que a vossa ressequida boca não encontra sequer o ar para refrescá-la; que o vosso Espírito aterrorizado só vê ao seu redor monstros prestes a devorá-lo; figurai-vos enfim tudo quanto um sonho fantástico pode engendrar de hediondo, de mais terrível, e transportai-vos depois e repentinamente a delicioso Éden. 

Despertai cercado de todos os que amastes e chorastes; vede, rodeando-vos, semblantes adorados a sorrirem de felicidade; respirai os mais suaves perfumes; desalterai a ressequida garganta na fonte de água viva; senti o corpo pairando no Espaço Infinito que o suporta e balouça, qual a flor da fronde se destaca aos impulsos da brisa; julgai-vos envolto no amor de Deus qual recém-nascidos no materno amor e tereis uma ideia, aliás, apenas imperfeita, dessa transição. 

Procurei explicar-vos a felicidade da vida que aguarda o homem depois da morte do corpo e não pude.

 Será possível explicar o infinito àquele que tem os olhos fechados à luz e que não pode sair do estreito círculo que o encerra?!”. 

Eis, agora, o relato da senhora Foulon, dirigindo-se a Kardec: “(...) considero-me feliz agora; estes míseros olhos que se enfraqueceram a ponto de me não deixarem mais que a recordação de coloridos prismas da juventude, de esplendor cintilante; estes olhos, digo, abriram-se aqui para rever horizontes esplêndidos, idealizados em vagas reproduções por alguns dos vossos geniais artistas, mas cuja exuberância majestática, severa e conseguintemente grandiosa, tem o cunho da mais completa realidade.    
(...) Depois do último alento, encontrei-me como que em desmaio, sem consciência do meu estado, não pensando em coisa alguma, numa vaga sonolência que não era bem o sono do corpo nem o despertar da alma. 

Nesse estado fiquei longo tempo, e depois, como se saísse de prolongada síncope, lentamente despertei no meio de irmãos que não conhecia.

 Eles prodigalizavam-me cuidados e carícias, ao mesmo tempo em que me mostravam no Espaço um ponto algo semelhante a uma estrela, dizendo: 

‘É para ali que vais conosco, pois já não pertences mais à Terra’. Apoiada sobre eles, formando um grupo gracioso que se lança para as esferas desconhecidas, mas na certeza de aí achar a felicidade, subimos, subimos, à proporção que a estrela se engrandecia...

 Era um mundo feliz, um centro superior no qual a vossa amiga vai repousar. 

Quando digo repouso, quero referir-me às fadigas corporais que amarguei, às contingências da vida terrestre, não à indolência do Espírito, pois que este tem na atividade uma fonte de gozos”. 

Uma condessa chamada Paula conta: “(...) O que é a felicidade terrena comparada à que desfruto aqui? Esplêndidas festas terrenas em que se ostentam os mais ricos paramentos, o que são elas comparadas a estas assembleias de Espíritos resplendentes de brilho que as vossas vistas não suportariam, brilho que é o apanágio da sua pureza? 

Os vossos palácios de dourados salões, que são eles comparados a estas moradas aéreas, vastas regiões do Espaço matizadas de cores que obumbrariam o arco-íris?! 

Os vossos passeios, a contados passos nos parques, a que se reduzem, comparados aos percursos da imensidade, mais céleres que o raio?

 Horizontes nebulosos e limitados, que são, comparados ao espetáculo de mundos a moverem-se no Universo infinito ao influxo do Altíssimo? 

E como são monótonos os vossos concertos mais harmoniosos em relação à suave melodia que faz vibrar os fluidos do éter e todas as fibras d`alma!

E como são tristes e insípidas as vossas maiores alegrias comparadas à sensação inefável de felicidade que nos satura todo o ser como um eflúvio benéfico, sem mescla de inquietação, de apreensão, de sofrimento?! 

Aqui, tudo ressumbra amor, confiança, sinceridade: por toda parte corações amantes, amigos!”. 

A segunda parte do livro “O Céu e o Inferno” merece, como, aliás, toda a Codificação, acurado estudo, a fim de que possamos nos instruir acerca da realidade que nos aguarda...  

 Ali, mais do que nunca vamos, enfim, compreender o que o singular Apóstolo Paulo quis dizer ao escrever aos coríntios[1]:
 “Onde está, ó morte, o teu aguilhão?”; vamos também entender em espírito e verdade a consoladora promessa de Jesus ao proclamar[2]: “Em verdade, em verdade vos digo que, se alguém guardar a minha palavra, nunca verá a morte”.

Rogério Coelho  -  O Consolador                                                                          



[1] - Coríntios, 15:55.
[2] - João, 8:55.


sexta-feira, 18 de outubro de 2013




                    Fumo de Terceira Mão 


 Você sabe o que é isto? 

Não? 
Acontece que os resíduos dos cigarros não se assentam inertes em superfícies. 
Eles podem reagir com o ácido nitroso que é emitido principalmente por aparelhos a gás e veículos, criando compostos cancerígenos.

 Esta afirmativa é de uma equipe de pesquisadores do Laboratório Nacional Lawrence Berkley sediado nos Estados Unidos.

Quanto à tese de que fumar fora de casa pode evitar tal dano, os pesquisadores alertam para o fato de que os resíduos da nicotina prendem-se à pele e à roupa e podem ser transportados para o interior da casa e com isto impregnar o ambiente. Imagine agora aqueles que fumam em seus carros. 

Ele (a), toda a sua família ou aqueles que são transportados ficam impregnados dos tais resíduos. Os cientistas recomendam uma total troca de carros, móveis, carpetes e até gessos das paredes que receberam baforadas no decorrer dos anos.Segundo se lê nos compêndios da ciência, a coisa é mesmo muito séria.

 Os ambientes ficam impregnados por esses compostos cancerígenos que podem afetar danosamente a saúde dos familiares e amigos visitantes dos lares de fumantes.Sabemos que hábitos são difíceis de serem arraigados da mente. Assim, vamos postergando os cuidados necessários às suas mudanças. Contudo, sabemos também que uma encarnação passa muito rápido. 

Que oitenta anos nada representam na escalada evolutiva do ser. 

Desta forma, preservar nossa saúde e a de terceiros torna-se uma missão. Sobre os vícios Joanna de Ângelis faz o seguinte comentário:

 “Os vícios, pois, decorrem da acomodação mental e moral a situações penosas e equívocas, que exigem esforço para salutar direcionamento, mas que a falsa sensação de prazer transforma-se em pesar ou aflição.” 

Freud, o eminente psiquiatra, por sua vez denomina o fenômeno como: 

“pulsão de morte”, que é a forma mórbida como a pessoa deixa-se arrastar por comportamentos doentios e que destroem.


O bom é que, aos poucos, a própria sociedade vai modificando seus hábitos e, com isto, os indivíduos que a compõem seguem seus passos. 

O tabagismo vem sendo amplamente estudado e debatido em vários segmentos. 

Sartre, filósofo existencialista do século passado, que a certa idade tornou-se tabagista, sugeriu não darmos conotação especial ao tabaco e entendê-lo apenas como uma erva que arde e se consome. Ou seja, sem priorizá-lo. Sem distingui-lo como elemento de primeira linha em nossas condutas.


O termo: “Fumo de Terceira Mão” é relativamente novo, mas tem aberto espaços a grandes discussões por parte dos pesquisadores. Segundo eles a população mais vulnerável é a de crianças. Disse o Prof. André Gundel, da Unipampa (RS): “A absorção da nicotina através da pele de uma criança é mais propensa ocorrer quando o fumante retorna da rua. Havendo ácido nitroso no ambiente doméstico, que normalmente é o caso, então os compostos cancerígenos se formarão. Crianças pequenas têm maior tendência a consumir mais poeira” – Completou. E é uma poeira turbinada! Dizemos nós

Será que podemos vencer ainda nesta encarnação o hábito de fumar, se é que o possuímos?

 De novo recorrendo a Joanna de Ângelis, encontramos o seguinte aconselhamento:

 “Busque as Fontes Generosas da Espiritualidade por intermédio da oração e da concentração, a fim de receber os fluxos de energia renovadora para a manutenção da estabilidade dos propósitos abraçados”.

terça-feira, 15 de outubro de 2013




Jean Pierre, o rapaz das moedas de ouro

“Somente o homem que escreveu tais linhas pode me ajudar. 

Vou encontrá-lo’’, pensou o pobre rapa. 

O inverno daquele ano fora um dos piores de que se tivera notícia. Os parques da cidade deixavam à mostra as árvores sombriamente cobertas de neve. 

Os parisienses encolhiam-se, recolhendo-se mais cedo. 

As lareiras crepitavam, quando bem alimentadas pelo carvão, escasso e caro.

As revoluções que varriam a Europa há décadas ainda não haviam conseguido atender os trabalhadores mais pobres de Paris, nas suas necessidades mais básicas. 

O ar intelectual que se respirava deixava ver que profundas transformações aconteciam; as descobertas e as invenções se sucediam; livros eram editados, quadros expostos; a vida cultural nos teatros e nos salões era de raro esplendor.

 No entanto, havia fome. 
E frio.
 E outras comezinhas necessidades humanas, não atendidas.Jean Pierre vagava na noite pouco iluminada e fria. O ano: 1865. Inverno. 
Mês de dezembro. 

Ele carregava um livro nas mãos – “L’Évangile sélon L’Spiritisme”. 

Descobrira o endereço do autor, situado no centro da cidade e para lá se encaminhava em tão adiantada hora.Localizada a moradia do professor Rivail, conforme lhe informou um guarda, bateu-lhe à porta. 

Transido de frio e fome, não teve forças para dizer nada. Desmaiou. O livro lhe cairia das mãos e Kardec ao pegá-lo leria o que ele próprio escrevera, destacado em lápis vermelho pelo seu inesperado visitante noturno e leitor: 

Nas grandes calamidades, a caridade se comove e veem-se os rasgos de generosidade para reparar os desastres, mas ao lado dessas desgraças coletivas, há milhares de desgraças particulares que passam despercebidas, de pessoas que jazem sobre um leito miserável, sem uma queixa. São os infortúnios discretos e ocultos, que a verdadeira generosidade sabe descobrir sem esperar que venham pedir auxílio.  

professor acolheu-o em sua casa, onde dormiria aquela noite. 
Alimentou-o, deu-lhe roupas de frio e conversaram longamente sobre o trecho em destaque, que tanto o sensibilizara.
Ao despedirem-se, entregou-lhe uma carta de recomendação, lavrada de próprio punho, para que pudesse mais facilmente arrumar um emprego.

Jean Pierre não andara muito e notou que num dos bolsos do grande casaco que ganhara tinha algo que não percebera antes: duas moedas de ouro. 

Como tinham ido parar ali? Vestira o casaco ainda dentro da casa e nada notara. 

Que mãos ligeiras teriam colocado aquelas moedas naquele bolso?Voltou à casa do professor, pois aquelas moedas não lhe pertenciam. 

Muito embora elas pudessem lhe garantir o sustento por quase um mês... Kardec atendeu-o de boa vontade e perguntou-lhe o que o trazia de volta tão rapidamente. Jean Pierre mostrou-lhe as moedas.

– Deixe-me vê-las, pediu o mestre lionês. – Não são minhas não, meu caro rapaz! 

Tens mesmo certeza de que estavam no casaco?O rapaz o olhou admirado e indagou a si mesmo: “Então terá sido um milagre?”.

Lembrou, então, do rigor com que o professor tratava toda e qualquer questão e argumentou:

– Bem, se não são suas e o casaco me foi dado, é natural que eu me aposse delas, pois fará parte do casaco, que agora me pertence, não é?

Houve concordância mútua e Jean Pierre lá se foi com suas moedas de ouro, feliz da vida.Dois anos mais tarde, numa das reuniões da Sociedade Espírita de Paris, Kardec lê a mensagem de um Espírito, que se manifestara, trazendo ao grupo uma interessante narrativa. 

Ei-la, na íntegra:‘Meus amigos, Deus vos abençoe. Um dia, há pouco mais de dois anos, encontrei um homem verdadeiramente caridoso.

 E discreto. 

Generoso, deu-me duas moedas de ouro. Ensinara-me, através do que escrevera no ano anterior, que devíamos buscar as misérias ocultas e socorrer suas vítimas. 

Assim fiz. Multipliquei as moedas de ouro, primeiro trocando-as em moedas menores e depois as empregando em um bom negócio, o que as quintuplicou. 

Trocava-as, distribuía parte delas a quem muito necessitava e a outra parte investia de novo nos negócios. 

Em pouco tempo fiz pequena fortuna e, tanto mais as doava, mais elas se multiplicavam.Embora todo o meu cuidado em não me revelar, um dia fui descoberto, pois não tinha as mãos tão ligeiras quanto à daquele homem generoso. Empreguei, então, abertamente todo o meu capital numa pequena indústria e proporcionei trabalho a muita gente. Quando a morte me acolheu em seus braços, muitos corações me choraram a ausência. 

Eu, por graça divina, pude continuar aqui o trabalho iniciado. E sempre que posso, saio por aí, buscando inspirar as pessoas para que elas não se esqueçam das misérias que se ocultam tão próximas de seus olhos. 

Basta ter olhos de ver, conforme ensinou o Mestre... Não se esqueçam de multiplicar os tantos talentos que a vida vos concedeu!”.  

Jean Pierre, o rapaz das moedas de ouroNão consta nenhuma referência ao fato, nas várias biografias que se escreveu sobre Kardec. 

Nem mesmo se sabe se ele revelou ser aquele homem generoso e discreto, que doara as tais moedas de ouro àquele rapaz.

 Possivelmente não, pois se revelasse o feito, deixaria de ser discreto, embora continuasse generoso. 

Como a verdadeira generosidade anda a braços dados com a discrição, ele, certamente, calou-se.

Como descobriram o caso das  moedas de ouro é outra história, muito longa, que convém deixar para outra oportunidade. Ou mesmo ocultar...

ABEL SIDNEY - O CONSOLADOR